Não tenho
dúvidas que as medidas de austeridade que envolveram a célebre “tsu” foram a
gota de água que fez transbordar o copo da paciência dos portugueses e que os
levou para a rua, no passado dia 15 de Setembro, em manifestações por todo o
país. As maiores dos últimos anos.
Mas também
não tenho duvidas que esse protesto do povo anónimo não se dirigiu
especialmente contra o actual Governo, como muitos, abusiva e
oportunisticamente pretenderam fazer crer, mas sim contra todo um conjunto de
responsáveis políticos que com a sua acção e/ou omissão, levou o país a esta
crise que parece não ter fim, e que finalmente, os portugueses começam a tomar
consciência efectiva da dimensão e dureza das suas consequências…
Com efeito,
os portugueses começaram a perceber que os direitos que julgavam
definitivamente adquiridos, afinal não o são, que o dia de amanhã não vai ser
melhor que o de hoje, e que o futuro dos seus filhos, para além de incerto,
poderá estar hipotecado por muitos e longos anos… O que tudo, para além de
angústia e indignação, é causa de natural e compreensível revolta.
E a verdade
é que, Portugal não está apenas, conjunturalmente, em recessão económica e com
uma taxa de desemprego elevada, com tendência para continuar a subir… Está sob
ajuda financeira internacional e com uma dívida gigantesca para pagar, que terá
necessariamente de ser satisfeita com o esforço e mais sacrifício de todos os
portugueses.
Esta, é a
realidade nua e crua.
Todavia, se
é verdade que é o actual Governo quem tem a “batata quente” na mão, também é de
reconhecer que está longe de ser o principal responsável pela presente situação,
pelo estado a que as nossas contas públicas chegaram, que tanto dano causa aos
portugueses. Não esqueçamos que a dívida pública de Portugal entre 2004 e Maio
de 2011 praticamente duplicou… E que nas vésperas do resgate, pedido pelo
anterior Governo Socialista, Portugal esteve à beira do abismo, da bancarrota,
tendo chegado a pagar juros nos mercados internacionais na ordem dos 10%!
Por outro
lado, o actual Governo apenas iniciou funções em Junho do ano passado e está
muito limitado na sua liberdade de acção. Desde logo, por um conjunto de
compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional, com o Banco Central
Europeu e com a Comissão Europeia (que constituem a famosa Troika…), no âmbito
do programa de ajuda financeira, o qual não só impõe metas, como um calendário
para a sua concretização.
E a verdade
é que, mesmo que nem sempre concordemos com as soluções propostas ou com os
caminhos trilhados, sempre teremos de considerar o esforço determinado do
actual Governo no sentido de cumprir de forma rigorosa com os compromissos
assumidos com a dita Troika. O que tem, aliás, merecido sucessivos reconhecimentos
por parte desta, nas diversas avaliações que tem levado a efeito. E é bom que
todos tenhamos consciência, que se assim não tivesse acontecido também com a
última avaliação, a próxima tranche de 4,3 mil milhões de euros não seria
desbloqueada…com as consequências que também todos somos capazes de imaginar…
Apesar de
tudo, Portugal tem caminhado em direcção da consolidação das suas contas
públicas e recuperou, claramente, a sua credibilidade junto dos mercados
financeiros internacionais. Hoje, já ninguém coloca Portugal no mesmo saco da
Grécia.
O que não
significa que o actual Governo não deva retirar as devidas ilações das
manifestações do passado dia 15 de Setembro. Pelo contrário. Desde logo, é fundamental
que o Governo perceba que a consolidação das finanças públicas está longe de
esgotar as expectativas que os portugueses nele depositaram. Que a verdade e a
coerência são valores fundamentais para uma relação de confiança sólida com o
povo, e que este não está mais disponível para perdoar os erros do passado. E que
o povo apenas aceitará mais sacrifícios, desde que assentes em princípios de
verdadeira equidade e que os mesmos signifiquem esperança de um futuro melhor.
Ou seja, que o povo apenas está disponível para dar um passo atrás, se estiver
convencido que tal permitirá, de seguida…dar dois passos em frente.
Paulo Ramalho
Vereador do PSD da Câmara
Municipal da Maia