20121030

opinião > PAULO RAMALHO


AS MANIFESTAÇÕES DO PASSADO DIA 15 DE SETEMBRO

Não tenho dúvidas que as medidas de austeridade que envolveram a célebre “tsu” foram a gota de água que fez transbordar o copo da paciência dos portugueses e que os levou para a rua, no passado dia 15 de Setembro, em manifestações por todo o país. As maiores dos últimos anos.
Mas também não tenho duvidas que esse protesto do povo anónimo não se dirigiu especialmente contra o actual Governo, como muitos, abusiva e oportunisticamente pretenderam fazer crer, mas sim contra todo um conjunto de responsáveis políticos que com a sua acção e/ou omissão, levou o país a esta crise que parece não ter fim, e que finalmente, os portugueses começam a tomar consciência efectiva da dimensão e dureza das suas consequências…
Com efeito, os portugueses começaram a perceber que os direitos que julgavam definitivamente adquiridos, afinal não o são, que o dia de amanhã não vai ser melhor que o de hoje, e que o futuro dos seus filhos, para além de incerto, poderá estar hipotecado por muitos e longos anos… O que tudo, para além de angústia e indignação, é causa de natural e compreensível revolta.
E a verdade é que, Portugal não está apenas, conjunturalmente, em recessão económica e com uma taxa de desemprego elevada, com tendência para continuar a subir… Está sob ajuda financeira internacional e com uma dívida gigantesca para pagar, que terá necessariamente de ser satisfeita com o esforço e mais sacrifício de todos os portugueses.
Esta, é a realidade nua e crua.
Todavia, se é verdade que é o actual Governo quem tem a “batata quente” na mão, também é de reconhecer que está longe de ser o principal responsável pela presente situação, pelo estado a que as nossas contas públicas chegaram, que tanto dano causa aos portugueses. Não esqueçamos que a dívida pública de Portugal entre 2004 e Maio de 2011 praticamente duplicou… E que nas vésperas do resgate, pedido pelo anterior Governo Socialista, Portugal esteve à beira do abismo, da bancarrota, tendo chegado a pagar juros nos mercados internacionais na ordem dos 10%!
Por outro lado, o actual Governo apenas iniciou funções em Junho do ano passado e está muito limitado na sua liberdade de acção. Desde logo, por um conjunto de compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional, com o Banco Central Europeu e com a Comissão Europeia (que constituem a famosa Troika…), no âmbito do programa de ajuda financeira, o qual não só impõe metas, como um calendário para a sua concretização.
E a verdade é que, mesmo que nem sempre concordemos com as soluções propostas ou com os caminhos trilhados, sempre teremos de considerar o esforço determinado do actual Governo no sentido de cumprir de forma rigorosa com os compromissos assumidos com a dita Troika. O que tem, aliás, merecido sucessivos reconhecimentos por parte desta, nas diversas avaliações que tem levado a efeito. E é bom que todos tenhamos consciência, que se assim não tivesse acontecido também com a última avaliação, a próxima tranche de 4,3 mil milhões de euros não seria desbloqueada…com as consequências que também todos somos capazes de imaginar…
Apesar de tudo, Portugal tem caminhado em direcção da consolidação das suas contas públicas e recuperou, claramente, a sua credibilidade junto dos mercados financeiros internacionais. Hoje, já ninguém coloca Portugal no mesmo saco da Grécia.
O que não significa que o actual Governo não deva retirar as devidas ilações das manifestações do passado dia 15 de Setembro. Pelo contrário. Desde logo, é fundamental que o Governo perceba que a consolidação das finanças públicas está longe de esgotar as expectativas que os portugueses nele depositaram. Que a verdade e a coerência são valores fundamentais para uma relação de confiança sólida com o povo, e que este não está mais disponível para perdoar os erros do passado. E que o povo apenas aceitará mais sacrifícios, desde que assentes em princípios de verdadeira equidade e que os mesmos signifiquem esperança de um futuro melhor. Ou seja, que o povo apenas está disponível para dar um passo atrás, se estiver convencido que tal permitirá, de seguida…dar dois passos em frente.

Paulo Ramalho
Vereador do PSD da Câmara Municipal da Maia

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