20111120

opinião > PAULO RAMALHO

CHEGOU A HORA DA VERDADE, DAS CONTAS SIMPLES...

Que as contas públicas apresentavam, ano após ano, défice, e que o país continuava a endividar-se todos os dias, já os portugueses o sabiam e tinham-se mesmo habituado a conviver pacificamente com tal realidade. De tal forma, que sempre que alguém alertava para a gravidade da “coisa” e das consequências que essa realidade poderia gerar, normalmente era ignorado e quantas vezes até desconsiderado. Veja-se Manuela Ferreira Leite, cujo discurso era sucessivamente considerado demasiado deprimente quando comparado com o de José Sócrates, esse fantástico fazedor de ilusões…
Agora, que chegaria o dia em que direitos tidos “por adquiridos”, como os subsídios de Natal e de Férias, deixariam de existir, essa é que era uma realidade que a grande maioria dos portugueses não esperava e julgava mesmo nunca vir a acontecer. E mesmo o espectro da “bancarrota”era algo que não merecia especial preocupação. Afinal, fazíamos parte da União Europeia, da moeda única, pelo que no limite, sempre teríamos a protecção daquela, que tudo resolveria…
O país vivia largamente acima das suas possibilidades, mas os portugueses não tinham verdadeira consciência dessa realidade, e muito menos das consequências que tal lhes poderia acarretar. O que em certa medida até se compreende, pois a generalidade dos portugueses até auferia salários bem inferiores aos praticados na maioria dos países da União Europeia.
Entretanto, chegou a Troika, um novo Governo, e agudizou-se a crise grega. E de um momento para o outro, os portugueses são confrontados com a frieza da realidade: o desequilíbrio das nossas contas públicas é muito maior do que se julgava, a dívida do Estado tem que ser mesmo paga e a Europa Unida, afinal, não é tão solidária como parecia.
Ou seja, chegou a hora da verdade, das contas simples, do “deve e haver”. Sem espaço nem tempo para ensaios económicos de grande complexidade e muito menos, para mais experiências de engenharia financeira. Essa “engenharia”, que quase sempre produzida por mentes brilhantes e sofisticadas, foi, provavelmente, a grande responsável pela situação a que chegamos, ao ter alimentado, durante anos e anos, uma aparência de verdade frequentemente distante da realidade, pelo menos daquela com que agora estamos a ser confrontados: a dos números, “puros e duros”.
E aos Portugueses, independentemente da sua quota de responsabilidade pelo estado a que chegou o país, não resta alternativa que não seja, trabalhar mais, esquecer os ditos direitos que tinham “por adquiridos” e adiar por muitos anos, o sonho de beneficiarem de um nível de vida similar ao dos seus congéneres da maioria dos países da União Europeia…