20130108

opinião > PAULO RAMALHO

PORTUGAL, A LUSOFONIA E A DIÁSPORA
A verdadeira dimensão de Portugal está longe de se confinar aos seus 92.000 Km2 de território e à sua população de pouco mais de dez milhões de habitantes. Portugal possui uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas da Europa, com cerca de 1.680.000 Km2 e tem, actualmente, mais de quatro milhões e meio de cidadãos seus espalhados por cerca de 140 países do mundo. Segundo ainda dados do Observatório da Emigração e da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico), a França é actualmente a nação que concentra mais portugueses e Santa Lúcia ou Ilhas Maurícias, os estados que registam menor número. Sendo que estudos existem, que sugerem, que o número total de portugueses e luso-descendentes até à terceira geração, no estrangeiro, rondará os trinta milhões…com forte presença em países como o Brasil, Estados Unidos, Canadá, Venezuela, Africa do Sul e França.
Mas o maior activo de Portugal é claramente a sua língua, falada por mais de duzentos e cinquenta milhões de pessoas em todo o mundo, o que lhe confere um estatuto de universalidade.
Com efeito, fruto desse período épico dos descobrimentos, dos sécs. XV e XVI, o Português é hoje a quinta língua mais falada a nível mundial e a terceira das línguas europeias, a seguir ao Inglês e ao Espanhol, sendo mesmo a língua oficial de dez países: Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Timor-Leste, Macau e, obviamente, Portugal.
Pelo que mesmo enfrentando a crise económica e financeira que todos conhecemos e sentimos na pele, Portugal está longe de ser o coitadinho da União Europeia, como alguns parecem indiciar. Pelo contrário, Portugal tem uma dimensão histórica e uma presença no mundo, que fazem dele, no actual contexto da globalização, um dos actores de maior potencial, mesmo dentro da própria União Europeia. Como alguém dizia, recentemente, Portugal é a plataforma natural para aproximar a Europa da Africa e da América Latina.
Tanto mais, que nesta altura, alguns dos países para quem a Europa olha com mais atenção, pertencem precisamente ao espaço da Lusofonia, eixo de natural influência de Portugal. Desde logo o Brasil, com cerca de duzentos milhões de habitantes e um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, país que já é hoje a economia mais importante da América Latina. Angola, actualmente o segundo maior produtor de petróleo de Africa e que será, seguramente, a maior economia deste continente dentro de dez anos. E Moçambique, país que possui a quarta maior reserva de gaz natural do planeta e que regista nos últimos anos, taxas de crescimento na ordem dos 8%.
Mas Portugal não é só um país com simples influência junto dos territórios lusófonos. Por razões históricas e culturais, Portugal é, além do mais, um parceiro e um interlocutor privilegiado no relacionamento com esses países. Aliás, refira-se, que nenhuma outra nação conseguiu desenvolver uma relação de confiança, cumplicidade e integração, mesmo de familiaridade, com as suas ex colónias, como Portugal o fez.
Daí que a estratégia de internacionalização da nossa própria economia deverá ser especialmente reforçada junto dos países de língua oficial portuguesa. E reconheça-se, que muitas das nossas empresas já começaram a construir esse caminho. Não é por acaso que Angola é já o quarto destino das nossas exportações, a seguir a Espanha, Alemanha e França. E na última Facim (Feira Internacional de Moçambique) que teve lugar em Maputo, no final de Agosto de 2012, onde estiveram representações de países como a Africa do Sul, Alemanha, Brasil, China, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Indonésia, Itália, Malawi, Namíbia, Polónia, Qatar, Quénia, Suazilândia, Turquia e Zâmbia, Portugal participou com 140 empresas (empresas portuguesas e moçambicanas de capitais portugueses…), claramente a maior delegação dos últimos anos, o que mereceu inclusive a visita do nosso próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas.
Por outro lado, não podemos esquecer que a presença na economia do Brasil, significa o acesso privilegiado aos mercados dos demais países associados ao Mercosul (Mercado Comum do Sul), ou seja, da Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. Da mesma forma, que a presença em Angola e Moçambique, representa o acesso privilegiado ao espaço económico dos demais países que fazem parte da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Austral), ou seja, da Africa do Sul, Botswana, Republica Democrática do Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe.
Por último, voltemos novamente aos milhões de portugueses espalhados” pelos quatro cantos do mundo.” Também eles, um activo importantíssimo na promoção e afirmação dos interesses de Portugal na esfera internacional. Com efeito, muitos desses cidadãos de passaporte português, plenamente integrados na vida social, económica e mesmo política, dos respectivos países de acolhimento, são potenciais embaixadores do nosso país, activo muitas vezes esquecido, e que deverá ser melhor aproveitado pelos responsáveis da nossa diplomacia. O “Conselho da Diáspora Portuguesa”, recentemente criado, foi já um passo importante nesse sentido.
 
PAULO RAMALHO
Conselheiro Nacional do PSD

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